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SONS DAS PALAVRAS

ORTOÉPIA

As palavras a seguir são as que, geralmente, apresentam mais dúvidas quanto à pronúncia correta. Respaldado na etimologia e em grandes dicionaristas, gramáticos e autores, distingo o verdadeiro som de cada uma delas. A Ortoépia ou Ortoepia é a área da Fonética que se preocupa em estudar a pronúncia padrão e original de cada palavra do léxico português. As palavras estudadas podem ser quanto a seu timbre, aberto ou fechado, ou quanto à correta emissão das vogais, por exemplo, dizemos advogado e não “adevogado”. Nestas páginas, debruçar-nos-emos sobre a distinção entre timbre fechado e timbre aberto de vários termos. Tudo o que está escrito abaixo representa a minha opinião contundente, é claro que muito do que se segue pode ser visto de outro modo, por outras pessoas; isso porque existem muitas complexidades nesta nossa língua riquíssima, “inculta e bela”. Um exemplo muito patente é a própria palavra usada para conceituar o estudo dos timbres e da pronúncia correta dos termos: ortoépia ou ortoepia? Aí vocês já vêem o quanto é amplo o nosso idioma com as suas idiossincrasias.

ACERBO
(Lat. Acerbu; Ing. Acerbic; Esp. Acerbo; Fran. Acerbe; Ita. Acerbo).
O timbre desta palavra é aberto, ou seja, pronuncia-se “acérbo”. Essa é a ilação da esmagadora maioria de gramáticos e dicionaristas. É de se notar que o uso desta palavra deve ser cerceado, pois está no nível da fala culta. A palavra em relevo significa azedo ou áspero.

ALFORJE
(Ára. Al-Hurğ; Ing. Knapsack; Esp. Alforja; Fran. Havresac; Ita. Zaino).
Esta palavra possui o som aberto, isto é, pronunciamo-la “alfórje”. As opiniões a favor dessa afirmação provêm dos dicionaristas: Celso Luft, Marques Guimarães, Francisco Fernandes, Caldas Aulete, entre outros. A voz discordante de maior importância é a do gramático Antonio Sacconi. O significado é de saco com dois compartimentos dobrado ao meio e que se usa ao ombro ou sobre a cavalgadura; sacola.
 ALGOR
(Lat. Algore; Ing. Cold; Esp. Frío; Fran. Froid; Ita. Freddo).
Esta palavra se pronuncia com o som fechado, ou seja, “algôr”. Também é de uso da fala erudita. Não restam dúvidas acerca de seu timbre original. Tem por significado sentir uma sensação veemente de frio.

ALGOZ
(Ára. Al-Guz ī ī; Ing. Executioner; Esp. Verdugo; Fran. Exécuteur; Ita. Boia).
O seu som original é fechado; portanto, devemos pronunciar “algôz”. Essa é a conclusão unânime de todos os gramáticos, autores e dicionaristas. Só devemos fazer uma ressalva: existem diferenças na pronúncia das palavras porque, muitas vezes, o sotaque de cada região assim o exige, por isso é normal que nos deparemos com um alagoano pronunciando “algóz”; essa é uma das boas conseqüências que acontecem no imo de uma língua rica. Seu significado é carrasco, verdugo ou pessoa cruel.

ANEDOTA
(Gre. Anékdotos; Ing. Anecdote; Esp. Anécdota; Fran. Anecdote; Ita. Aneddoto).
A palavra deve ser pronunciada com o som aberto “anedóta”, essa é a opinião valiosa dos grandes dicionaristas que falam acerca desse termo: José T. da Silva Bastos, Antenor Nascentes, Cândido de Figueiredo e Viana. Todos os demais grandes autores se calam, tais como: Pe. Antonio da Cruz, Aurélio, Luft, Sacconi, Antônio Houaiss, o dicionário Michaelis etc. Seu significado é de uma narração motejadora de uma pequena história; piada ou fato jocoso.

ATROZ
(Lat. Atroce; Ing. Atrocious; Esp. Atroz; Fran. Atroce; Ita. Atroce).
A pronúncia original é com o timbre aberto “atróz”. Eu, pessoalmente, discordei durante muito tempo dessa opinião, mas estudando a sua etimologia e a sua entrada na língua, pude perceber que o pensar dos dicionaristas Cândido Jucá e José T. da Silva Bastos condizia melhor com a história deste termo em voga. Por mais que escarafunchemos as gramáticas e os dicionários, pouco encontraremos, pois, exceto Antenor Nascentes, Caldas Aulete e os autores já citados, ninguém opina sobre o assunto. A palavra significa desumano, pungente, lancinante, cruel e feroz.

BOSSA
(Fran. Bosse; Ing. Vocation; Esp. Aptitud; Ita. Abilità).
O som é aberto, citando Cândido de Figueiredo como maior autoridade, ou seja, a palavra deve ser pronunciada “bóssa”, assim como o substantivo composto “bóssa-nóva”, um estilo musical. O seu significado é aptidão, vocação, tendência etc.

CAMIONETA
(Fran. Camionnette; Ing. Delivery van; Esp. Camioneta; Ita. autocarro per colletame). 
 Esta palavra possui o som fechado: “camionêta”; ela é uma variante de “camionéte”. Essa é uma ilação da grande maioria dos autores. Existem, ainda, as outras formas: caminhoneta (^) e caminhonete (´).

CATETO
(Gre. Káthetos; Ing. Cathetus; Esp. Cateto; Fran. Catheti; Ita. Cateto).
Nós nos deparamos mais uma vez com a diferença de pronúncia conforme o significado. Se a palavra significar uma variedade de milho ou um espécime de porco do mato, seu timbre será aberto – “catéto”; se, por outro lado, significar cada um dos lados do ângulo reto no triângulo retângulo, terá o timbre fechado – “catêto”. Para o dicionarista e lingüista Antonio Houaiss, não há diferença na pronúncia. Mas a opinião mais forte e aceita, da qual comungamos, é a do nosso inesquecível Cândido de Figueiredo.

CEPA
(Lat. Cippu; Ing. Stock; Esp. Cepa; Fran. Souche; Ita. Ceppo).
Devemos distinguir a pronúncia desta palavra conforme o significado: se ela significar uma planta originária da Índia, então seu som será aberto – “cépa”; porém, se seu significado for videira, tronco de uma videira ou toro (´) de uma árvore, seu som será fechado – “cêpa”. Alguns dicionários, Houaiss como exemplo, não fazem diferenciação alguma da pronúncia do termo aqui estudado.
CERDA
(Lat. Cirra; Ing. Bristle; Esp. Cerda; Fran. Soie; Ita. Setola).
O seu timbre é fechado – “cêrda”. Essa é a opinião de Pe. Antonio da Cruz, Antonio Sacconi, Caldas Aulete, Celso Luft, Francisco Fernades, Marques Guimarães, Faraco e Moura, Antonio Houaiss etc. Todos eles concordam, também, que o som da palavra “cêrdo” (porco) seja fechado. O grande Aurélio concorda que cerda (pêlo espesso de animal ou fibras de escova) seja fechado, mas discorda do timbre da palavra cerdo, apontando-o como aberto, o que difere ou destoa da nossa conclusão. Sinto muito Aurélio!

COESO
(Lat. Cohaesu; Ing. Cohesive; Esp. Cohesivo; Franc. Cohésif; Ita. Coesivo).
O som desta palavra é aberto – “coéso”. Pe. Antônio da Cruz, Cândido Jucá e grande parte dos gramáticos, ou melhor, a maior parte deles, concordam com essa afirmação. O grande Houaiss, talvez por descuido, deixou levar-se por uma “tendência tendenciosa”, esbulhando o som verdadeiro desta palavra, ou seja, afirmando que seria “coêso” a pronúncia correta. Ou, por outro ângulo, foi o primeiro a concordar com a força inegável dos falantes da língua, que é viva e dinâmica. Nesse caso, fica ao bel-prazer do falante a escolha do timbre, tendo em conta o que a gramática de séculos assinala a respeito do som originário de coeso, chamando-lhe “COÉSO”.      

COEVO
(Lat. Coævu; Ing. Coeval; Esp. Coetáneo; Fran. Contemporain; Ita. coevo).
Seu timbre é aberto – “coévo”; unanimidade de opiniões. Seu significado é contemporâneo; o que vive na mesma época; concomitante no tempo atual.

COLDRE
(Gre. Korythós; Lat. Corythu; Esp. (arc.) Goldre; Ing. Holster; Fran. Étui; Ita. Fondina).
O som da palavra é aberto – “cóldre”. Os grandes mestres da língua portuguesa nos atestam essa verdade. O Pe. Antonio da Cruz coloca essa opinião sem resquícios de dúvidas. O significado deste vocábulo é estojo para guardar revólver ou aljava para carregar flechas, ou, no sentido figurado, meretriz e rameira.
DESTRO
(Lat. Dextru; Ing. Right Hand; Esp. Diestro; Fran. Droite; Ita. Destro).
Esta palavra possui o som fechado, por mais que a tendência natural leve a pronunciá-la com o som aberto (déstro). Os melhores dicionários da língua trazem este termo indicando-nos a sua pronúncia de forma fechada. O seu significado é o lado direito de algo. O feminino também tem o timbre fechado, exemplo: Está sentado à destra (^) do Pai.   

ILESO
(Lat. Illaesu; Ing. Unharmed; Esp. Ileso; Fran. Indemne; Ita. Incolume).
O som é definitivamente aberto – “iléso”. Apesar da maior autoridade em ortoépia e prosódia, Pe. Antonio da Cruz, afirmar que o som de ileso é fechado, pois se baseia no Pequeno Vocabulário e no Vocabulário Ortográfico da Academia das Ciências de Lisboa, observa que os grandes dicionaristas brasileiros concordam com a pronúncia aberta da palavra (G. Viana, Caldas Aulete, Cândido de Figueiredo, Geraldo Matos, Francisco Fernandes, Celso Luft, Marques Guimarães, Dicionário Michaelis, José Bastos, Cândido Jucá etc.). Podemos, também, concluir que, baseando-nos em pesquisas, a maioria dos gramáticos é a favor da proposição de que o timbre desta palavra seja aberto (Faraco e Moura, Graciema Therezo, Domingos Segala etc.). O significado de ileso é não ferido; não leso; incólume; incorrupto; ilibado; são e salvo etc.

MEDOS
(Per. Mâda; Ing. Medes; Esp. Medios; Fran. Mèdes; Ale. Meder; Ita. Medi).
Este adjetivo gentílico não pode ser confundido com o substantivo abstrato medo (^), pois o primeiro possui o timbre aberto: (médos). Um medo é natural ou habitante da antiga Pérsia (Média).

MOLHO
(Lat. Munuculu; Ing. Sauce, Bunch; Esp. Salsa, Manojo; Fran. Sauce, Bouquet; Ita. Salsa, Mazzo).
O timbre será aberto ou fechado conforme o seu significado. Se a palavra for usada como significado de feixe ou conjunto de chaves, seu som será aberto – “mólho”, ou seja, será uma homônima perfeita com a primeira pessoa do singular do verbo molhar – eu “mólho”. Mas se o seu significado for tempero, no âmbito da culinária, então o seu som será fechado – “môlho”.

OBESO
(Lat. Obesu; Ing. Obese; Esp. Obeso; Fran. Obèse; Ita. Obeso).
O som desta palavra é, definitivamente, aberto – “obéso”. Essa opinião é corroborada pelo Pe. Antonio da Cruz, 1956; pelos dicionaristas gigantes: José T. da Silva Bastos, Cândido Jucá, Cândido de Figueiredo; pelos gramáticos: Faraco e Moura, Cláudio Moreno, Pascoalim e Spadoto, Domingos Segala, Roberto Melo Mesquita etc. A palavra deve ser usada com o significado de excessivamente gordo ou corpulento.

OBSOLETO
(Lat. Obsoletu; Ing. Obsolete; Esp. Obsoleto; Fran. Désuet; Ita. Antiquato).
O som da palavra é aberto – “obsoléto”. A esmagadora maioria concorda com essa proposição: Pe. Antonio da Cruz, Cândido Jucá, Cândido Figueiredo, Aurélio, Houaiss, Caudas Aulete etc. Existe, também, uma grande tendência para a mudança de timbre desta palavra, assim como da maioria das apresentadas aqui. É certo que não devemos aderir a tais mudanças desnecessárias, entretanto, não podemos nos tornar obsoletos; devemos acompanhar a evolução da língua, sabendo de sua dinamicidade. Por outro lado, não podemos ser autônomos no que concerne à estrutura lingüística, pois ela não é um patrimônio exclusivamente de um determinado indivíduo; é óbvio, por exemplo, que você sempre vai dizer “mêsa” e não “mésa”, não há discussões!

PODA
(Lat. – do verbo Putare; Ing. – v. Prune; Esp. Poda; Fran. – v. Tailler; Ita. Potare).
O som é aberto – “póda”. Opiniões de Caudas Aulete, Bastos etc. Tem por significado o ato de podar, cortar, tirar o excesso dos arbustos ou de qualquer planta.



POLDRO
(Lat. Pullitru; Ing. Colt; Esp. Potro; Fran. Cheval; Ita. Cavallo).
Esta palavra tem o som fechado – “pôldro”. Assim dizem: Aurélio, Pe. Antonio da Cruz, Caudas Aulete, Bastos etc. Tem por significado potro, filhote de cavalo.

PROBO
(Lat. Probu; Ing. Upright; Esp. Íntegro; Fran. Probe; Ita. Onesto).
Palavra de som aberto – “próbo”. Algumas considerações mais importantes: Pe. Antonio da Cruz, Sacconi etc. A voz mais importante que diz o contrário é a de Caudas Aulete, o qual afirma ser fechado o som – “prôbo”; talvez fosse a realidade de Portugal, na sua época. A palavra significa pessoa de comportamento íntegro, de caráter honesto, reto no agir.

RAPSODO
(Greg. Rhapsodós; Ing. Rhapsode; Esp. Rapsoda; Fran. Rhapsode; Ita. Rapsodo).
Possui o som aberto – “rapsódo”. Posições de Aurélio, de Pe. Antonio da Cruz, de Sacconi etc. Novamente, temos Caudas Aulete defendendo o timbre fechado desta palavra, com o qual deveremos discordar – “rapsôdo”, errado! Esta palavra significa cantor ambulante de rapsódias, na antiga Grécia, ou trovador.

SOLDA
(Lat. – do verbo Solidare; Ing. Welding; Esp. Soldadura. Fran. Soudage; Ita. Saldatura).
Possui o som aberto – “sólda”. O seu som é aberto segundo Aurélio, Bastos, Cândido Jucá etc. Vem do verbo soldar e significa unir uma peça à outra; o substantivo significa substância metálica fundível, para unir peças de metal.

TOLDO
(latim – tholu?; ou do grego – thólos?; Ing. Canopy; Esp. Toldo; Fran. Banne; Ita. Tenda).
Não há dúvida de que esta palavra possua o timbre fechado. Nenhum dicionarista ou autor discorda disso. Esta palavra significa coberta ou peça de lona ou de outra substância destinada, principalmente, a abrigar do sol e da chuva; a coberta do navio.
TOLHO
(Esp. Tollo; Ing. Fish; Esp. Pez; Fran. Poisson; Pesci).
Terá o som aberto se significar rapazote vadio (colhido na guarda), opinião de Bastos e Pe. Antonio da Cruz, ou seja, “tólho”. E terá o timbre fechado se seu significado for peixe da costa do Algarve – “tôlho”.

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